[Julio Cesar Lemes de Castro; J. C. L. Castro; Castro, Julio Cesar Lemes de; Castro, J. C. L.]

[Participação em eventos]

Colóquio O Fenômeno Glocal

Organização: Centro Interdisciplinar de Pesquisas em Comunicação e Cibercultura (CENCIB), PEPG em Comunicação e Semiótica, PUC-SP
Local: São Paulo (SP)
Data: 15 e 16 de dezembro de 2010

Glocal e o fetichismo contemporâneo

CASTRO, J. C. L.

Resumo: Do ponto de vista clínico, o fetichismo é um mecanismo de defesa contra a angústia da castração. O fetiche é um objeto (uma peça de roupa, uma parte do corpo) que substitui na fantasia o pênis materno, cuja inexistência a criança reluta em aceitar. Assim, o fetichismo permite conciliar a percepção da ausência do pênis materno com a crença em sua existência. Essa ambivalência é expressa por Freud através do conceito de Verleugnung, que se pode traduzir como desmentido, renegação, desautorização, e consiste numa dissociação entre saber e crença/ação. Trata-se da postura assim resumida na fórmula clássica de Octave Mannoni: “Eu sei muito bem, mas mesmo assim...” Se o funcionamento psíquico do fetichista patológico se ancora na Verleugnung (“Eu sei muito bem que a mulher não tem pênis, mas mesmo assim ajo como se ela tivesse”), esta está presente em algum grau e em algumas situações também em outros sujeitos, sugere Freud: todos seríamos numa certa medida fetichistas. Essa generalização permite a aproximação com outra formulação célebre, o fetichismo da mercadoria teorizado por Marx no livro I de O capital, que pode ser posto em termos análogos: “Eu sei muito bem que o valor consiste no trabalho social abstrato embutido na mercadoria, mas ajo como se ele fosse intrínseco à mercadoria”. Ou, nos termos do próprio Marx: no capitalismo, a relação entre pessoas assume a forma de uma relação entre coisas. O fetichismo da mercadoria acentua-se no capitalismo contemporâneo, em que as mercadorias aparecem cada vez mais como bens simbólicos, imateriais. E aqui chegamos ao fenômeno do glocal, que, particularmente no que tange à cibercultura, encontra no fetichismo sua lógica subjetiva. Pois o mecanismo da Verleugnung permite pensar como o sujeito faz a articulação entre o local e o global: “Eu sei muito bem que estou no local, mas ajo como se estivesse no global”. Ou, parodiando Marx: na cibercultura, a relação entre pessoas assume a forma de uma relação entre avatares.

Palavras-chave: glocal, cibercultura, fetichismo.

English title: Glocal and contemporary fetishism

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